Ilações de Pascal Lamy e as medidas europeias
Pascal Lamy reflecte sobre medidas europeias em relação ao mercado global
Como elaborar uma estratégia europeia para a globalização? A resposta a esta questão foi o pretexto para a vinda de Pascal Lamy, ex-director geral da Organização Mundial do Comércio, a Lisboa, no passado mês de Julho.
Numa entrevista exclusiva ao jornal Público, Pascal considera que alguns países têm dificuldade em constatar as mudanças que a economia mundial tem sofrido com a globalização, nomeadamente a produção de metade da riqueza mundial fora do universo ocidental e o aparecimento de uma nova classe média um pouco por todo o mundo. O político acredita que os territórios do Sul da Europa, como a Grécia, a Espanha, a França e a Itália, são aqueles que não conseguem encarar tão bem estas transformações.
No entanto, Pascal Lamy alerta que essas dificuldades não devem impedir a implementação de uma estratégia europeia que tem de privilegiar a melhoria da competitividade e o acesso aos mercados, principalmente nos Estados Unidos da América, «o motor do crescimento nos próximos dez anos». Na opinião de Lamy, só ao ganhar consciência das mudanças impostas pela globalização e da necessidade de ir buscar o crescimento fora da Europa é que o Velho Continente poderá recuperar o seu desenvolvimento económico e social, conseguindo, por exemplo, reduzir as taxas de desemprego.
Pascal Lamy é peremptório em amenizar os efeitos da crise para o continente europeu. Por exemplo, o político francês assegura que muitos dos problemas que afligem a Europa já são anteriores a este período económico mais conturbado. As dificuldades da integração europeia são um dos exemplos ao qual se juntam a adversidade da opinião pública relativamente à política europeia e a complexidade de construir um espaço político europeu.
Marine Le Pen: menos diabolização, mais discussão
A propósito do seu mais recente livro, Quando a França Regressar, Lamy considera que este país se sente ameaçado pelo resto do mundo e por todas as transformações impostas pela globalização. Foi esse o mote para que o político escrevesse esta obra: por um lado, para sublinhar que este fenómeno não deve ser sistematicamente considerado «o inimigo público número um» para os franceses; por outro, para explicar que a Europa «não é o instrumento de transmissão do vírus da globalização».
Para Lamy, Marine Le Pen [líder de extrema-direita que venceu as eleições europeias em França] também não deve ser um alvo de diabolização. A melhor estratégia seria incentivar um profundo debate com a presidente da Frente Nacional e desmontar cada um dos seus argumentos. O resultado das eleições europeias foi expectável para Pascal Lamy, que conclui que, naquele país, sempre coexistiram forças de extrema-direita e de extrema-esquerda desde os tempos da Revolução Francesa.
Em relação à negociação transatlântica de natureza bilateral criada pelos Estados Unidos da América e pela Europa, Lamy espera que esta troca possibilite a abertura de mercados para benefício de todos, embora confesse que esta questão continuará sempre em aberto. O ex-director geral da Organização Mundial do Comércio interroga-se sobre a capacidade de esta negociação ultrapassar as diferenças de administração da precaução, tão evidentes no comércio de hoje em que se privilegia mais as medidas para proteger o consumidor.
Fonte: 17-07-2014, Jornal Público
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