Os efeitos do embargo russo para a União Europeia
A 7 de Agosto, a Rússia anunciou oficialmente um embargo total à importação de bens agro-alimentares provenientes do Canadá, da Noruega, da Austrália, dos Estados Unidos da América (EUA) e da União Europeia (UE) por um período mínimo de um ano. Trata-se de uma resposta às medidas dos EUA e da UE que limitaram o acesso de bancos públicos russos aos mercados de capitais da Europa, uma punição pela atitude da Rússia na guerra civil na Ucrânia. Este braço de ferro entre o Ocidente e a zona russa piorou com o abate do voo da Malaysia Airlines.
O embargo total é, sem dúvidas, uma decisão que deve afectar a totalidade da União Europeia: afinal, o país liderado por Vladimir Putin é o segundo maior destino de produtos agrícolas desta zona. Aliás, de acordo com a Comissão Europeia, a venda deste tipo de bens representa 7% do total das exportações, e destas, cerca de 10% tem a Rússia como mercado.
O próprio presidente do Banco Central Europeu (BCE) reconhece que este conflito com a Rússia trará graves consequências para a UE: «Não há dúvidas de que se olharmos para o mundo de hoje, chegamos à conclusão de que os riscos geopolíticos aumentaram. Rússia, Iraque, Síria, Líbia… Só que a situação na Ucrânia e na Rússia terá um impacto mais forte na Zona Euro do que em outras zonas».
Analisando mais detalhadamente, conclui-se que a região báltica será uma das mais prejudicadas. Os números não enganam: a Estónia, a Letónia e a Lituânia exportam entre 1% e 4% do Produto Interno Bruto para a área russa. Em termos absolutos, a Alemanha, a Dinamarca, a Holanda e a Polónia são os países que exportam mais para esse mercado.
Portugal será pouco prejudicado pelo embargo total
Felizmente, Portugal não vai ser um dos países mais afectados por este embargo total. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, as exportações de produtos alimentares e de bebidas para a Rússia representam um valor muito pequeno: apenas 0.8%. Por outro lado, em 2013, a Federação Russa era apenas o 15º maior destino para os produtos agro-alimentares portugueses. O tomate é o protagonista desta troca comercial entre Portugal e Rússia. Seguem-se a maçã, a carne de porco e ovos.
Em comparação com todas as outras economias da União Europeia, Portugal é o 6º país com menor exposição das suas exportações para a Rússia, num total de 28 regiões. Perante estes dados, pode-se afirmar que o embargo total terá pouco peso para as empresas nacionais. No entanto, em declarações à Agência Lusa, o secretário de Estado da Alimentação e da Investigação Agro-alimentar , Nuno Vieira e Brito, assumiu que esta medida extrema da Rússia poderá ter «um impacto relevante na área agro-alimentar».
Afinal, na opinião deste Secretário de Estado, a Federação Russa «tem sido um mercado importante para algumas empresas», embora Nuno Vieira e Brito reconheça que globalmente «as firmas não exportam em exclusividade para este destino».
Fonte: Jornal de Negócios, 08-08-2014
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