Economia portuguesa com 3 problemas principais
Reinhard Felke, economista da Comissão Europeia, e Sven Eide, membro do Ministério das Finanças alemão, escreverem um artigo de investigação publicado na revista económica Intereconomics, onde analisam o ajustamento económico de Portugal e os principais entraves à recuperação económica do país.
Para estes dois especialistas em economia, o processo de ajustamento económico português está a ser liderado pelo crescimento das exportações, mas existem desafios estruturais que «limitam o potencial de crescimento do sector dos transaccionáveis», referem os autores do estudo, divulgado pelo jornal de economia «Diário Económico».
Economistas alemães destacam entraves à recuperação do sector exportador
A investigação dos dois economistas destaca três problemas principais que condicionam a economia portuguesa, no geral, e o sector exportador, em particular.
1 – Um grau de tecnologia relativamente baixo: para os dois economistas, o sector exportador é travado por um nível de inovação e de utilização de tecnologia ainda baixo. A este factor, juntam-se os elevados custos de financiamento das empresas portuguesas e estruturas empresariais pesadas e pouco ágeis. Para estes especialistas, estas características estão associadas a custos fixos elevados.
Além disso, acrescentam os peritos, «as empresas pequenas são um obstáculo quando é preciso entrar em mercados externos e promover a inovação.» Em Portugal, quase metade das vendas da indústria vem de empresas com menos de 50 trabalhadores, um número que baixa para 37% quando se trata da média europeia. Quase metade do valor acrescentado bruto na indústria reside no segmento de baixa intensidade tecnológica.
2 – Um baixo nível de qualificações: para Felke e Eide, que citam o FMI, «o capital humano é responsável por um terço da diferença de produtividade entre Portugal e os países mais desenvolvidos da OCDE.» Os dois economistas referem, por isso, que os trabalhadores portugueses têm de ser mais qualificados para poderem ser mais produtivos.
3 – Custos de financiamento elevados: de acordo com o relatório dos dois peritos, os elevados juros pagos pelas empresas portuguesas pelo financiamento bancário são outro entrave sério às exportações e ao investimento. Os juros pagos pelas companhias nacionais, que rondam os 4,5%, superam em mais de um ponto percentual os juros pagos pelas suas congéneres espanholas e irlandesas. Os economistas autores do estudo destacam ainda o facto de, no caso dos financiamentos mais baixos – inferiores a um milhão de euros – os juros chegarem mesmo aos 6%.
Investimento travado pelas dificuldades e custos de acesso ao crédito bancário
«Os juros elevados e as restrições aos novos empréstimos bancários representam um impedimento significativo ao investimento e à expansão» das empresas exportadoras, defendem Felke e Eide no seu relatório. Apesar das recentes notícias e anúncios do Banco Central Europeu a apelar aos bancos nacionais que «abram a torneira», o acesso ao crédito bancário por parte das empresas portuguesas continua muito difícil e a juros quase proibitivos.
Recorde-se que as exportações têm sido apontadas como o principal motor da recuperação económica nacional e têm superado as importações em diversos pontos percentuais, algo que não acontecia há diversos anos.
Fonte: 2014-06-05 10:08; Margarida Peixoto, Diário Económico
Leave a Reply
Want to join the discussion?Feel free to contribute!